quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Aos colegas

Bando de bundões
com belos discursos
e poucas ações

Nem em casa
Tampouco no trabalho
Somos sequer a pálida sombra
de nossas ambições

Nossas aspirações
se diluem na internet
Na facilidade do clique
Pois ir a rua dá trabalho

Vez que outro tomamos fôlego
Curto e inconcluso
Coito sem gozo

Nos falta persistência
E articulação em rede
Olharmos para além
dos nossos fundos umbigos

Enquanto isso o mundo segue
De mal a pior, rumo ao abismo
E vamos com ele, pois o caminho é um só

E não é economizar água, reduzir, reciclar
Que nos trará um novo caminhar
A salvação está na ecologia profunda
Em empregarmos toda a nossa energia
Fisica e psiquica por um outro mundo possível

Sem porteiras ou aramados
Sem quaisquer posses
Sequer de nós mesmos

Mas vivemos todos (sejamos honestos: quase todos)
No velho mundo que nossos avós no deram
Que receberam dos avós deles

Oremos, choremos, praguejemos
Mas façamos,  pelo nosso e dos outros bem
Diferente, a diferença

A quem busca tocar meu coração

Você tenta
Eu até quero

Mas não sei
ou não deixo

Ninguém chega até ele
senão por mim

As portas parecem abertas
Mas eu estou fechado
Talvez lacrado
Impermeável

Se nem eu mergulho na profundeza do meu ser
Não haveria de ser um(a) outr@ que o faria

O caminho até lá é como o labirinto do Minotauro
Mas não há Teseu,  não ha tesão
que consigo encontrá-lo
Quanto mais encará-lo

@s que tentaram
se perderam
Enlouqueceram

Melhor aceitar
a intransponível distância
Apreciar a vista panorâmica
sem poder observar os detalhes

Enquanto isso me sinto só
Ainda que amado
Acompanhado

O mundo é a minha casa
Nela habito com vocês
Mas no intimo de mim
nem vocês
talvez eu

O que não signifique que não te ame
Que não me aconchegue no coração
que se abre pra mim

Amar não é reflexivo
É sempre unilateral
mesmo quando mútuo
Se adentro
não significa que você possa
fazer o caminho inverso

Geralmente faço bagunça
Ocupo cada cantinho vazio
e saio sem arrumá-la
Que cada um
cuide de si

Saio também eu bagunçado
Junto meus farrapos
Me recolho

Talvez não
Quem sabe eu fique
circulando pelo mundo

Pois sei que se me recolher
provavelmente não encontre nada
No máximo pálidas projeções
daquilo que vivi dentro de ti

Em mim, apenas a vastidão do Universo
que reduz tudo a nada
E amo, e sou amado...