terça-feira, 28 de junho de 2016

Corrente de poemas (4)

Eu Sou do Tamanho do que Vejo


Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"
Heterónimo de Fernando Pessoa 

Enviado pelo elo Ana Cláudia Pupim (desconheço...)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Corrente de poemas (3)

Esse veio da amiga e colega Nara Pantoja, me lembrou noites no Croa, mirando céus estrelados, mandalas e fractais:

Ouvir Estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo? "

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas".
Olavo Bilac

Corrente de poemas (2)

O primeiro poema da corrente me veio de uma total desconhecida, Karine Ferreira (Facebook), produção autoral, super feminina:

Invadi teu quintal
Farejei cantos
Revirei canteiros
Sujei as unhas de terra

Cultivei tamanha agonia
Que pela porta de tua horta
Vi todas belas
Flores, coloridas petúnias

Estremeci

Nem mais sei de mim
Se orgulhosa em ser escolha tua
Ou, pesarosa,
Nos fundos do teu jardim
Repouso, pálida
Amargarida 

Corrente de poemas

Lu Ribas me colocou numa corrente de poemas, mó legal!!! Se alguém se interessar, me pede que eu te coloco nela (meus 20 - na verdade 21 - já enviei, mas sempre cabe mais um, né):

Estamos iniciando uma troca, coletiva, construtiva, e esperamos que seja edificante. É algo para uma vez só, e temos esperança que você participe. Escolhemos aqueles que julgamos que estarão disponíveis (ou a fim, ou que amem poesia) e irão torná-la divertida.
Por favor, envie um poema para a pessoa cujo nome está na posição 1 abaixo (mesmo se não a conhece). Deve ser um texto/verso/meditação etc., favorito que o/a tenha influenciado em momentos difíceis. Não se preocupe demais com a escolha.
​1. 
 Sylvia Chada
2.  Luciana Ribas 

Depois de enviar o curto poema/verso/citação etc. para a pessoa na posição 1, e apenas essa pessoa, copie esta mensagem para um novo e-mail.
Mude o meu nome para a posição 1, e coloque o seu nome na posição 2. Somente o meu nome e o seu nome devem aparecer no novo e-mail. Envie para 20 amigos em BCC (cópia oculta).
Se não puder fazer isso nos próximos cinco dias, avise-nos para ser justo com aqueles que participam. É divertido ver de onde vêm.
Raramente alguém desiste porque todos nós precisamos de novos prazeres. O retorno é rápido, pois há apenas dois nomes na lista, e só terá de fazer isto uma vez.

Luciana Ribas


Meu elo na corrente foi Sylvia Chada, amiga/colega que adoooro, de uma elegância ímpar, dotada de mil talentos, mulherão, ainda que falsa franzina. Na impossibilidade de escolher um poema, mandei 2, nenhum deles novidade pra quem me acompanha (já que a proposta é "um texto/verso/meditação etc., favorito que o/a tenha influenciado em momentos difíceis. Não se preocupe demais com a escolha."):

O primeiro é um tanto loooongo (Os Lusíadas ;D), mas faço aqui o recorte que mais me "impressionou": O canto X, estrofe 153. Me tirou muito cedo, ainda no antigo "segundo grau", da elucubração mental e me joguei no mundo.

De Formião, filósofo elegante,
Vereis como Anibal escarnecia,
Quando das artes bélicas, diante
Dele, com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.

O segundo é uma psicografia do espírito Cornélio Pires, que muito me inspirou no combate à vida e pensamentos complexos, e me lançou àquilo que eu chamo de "neo-paleolítico", minha proposta de vida :^D :

    Simplifica

    Clamas que o tempo está curto;
    Contudo, o tempo replica:
    "Não me gastes sem proveito,
    Simplifica, simplifica.

    É muita conta a buscar-te..
    Armazém, loja, botica...
    Aprende a viver com pouco,
    Simplifica, simplifica.

    Incompreensões, chicotadas?
    Calúnia, miséria, trica?
    Não carregues fardo inútil,
    Simplifica, simplifica.

    Encontras no próprio lar
    Parente que fere e implica?
    Desculpa sem reclamar,
    Simplifica, simplifica.

    Se alguém te injuria em rosto,
    Se te espanca ou sacrifica,
    Olvida a loucura e segue,
    Simplifica, simplifica.

    Recebes dos mais amados
    Ofensa que não se explica?
    Esquece a lama da estrada,
    Simplifica, simplifica.

    Alegas duro cansaço,
    Queres casa imensa e rica;
    Foge disso enquanto é tempo,
    Simplifica, simplifica.

    Crês amparar a família
    Pelo vintém que se estica...
    Excesso cria ambição.
    Simplifica, simplifica.

    Dizes que o mundo é de pedra,
    Que as provas chegam em bica;
    Não deites limão nos olhos,
    Simplifica, simplifica.

    Recorres ao Mestre em pranto
    Na luta que te complica
    E Jesus pede em silêncio:
    Simplifica, simplifica.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Again & again & again (enquanto há vida, há esperança)

Eis-me aqui, diante desta tela cinza e branco do blogger, "firmemente" disposto a retomar minhas escrivinhações após looongo período de silêncio (aqui, pois por aí ando bradando coisas mil: #tchauQuerida, #eleiçõesgerais2016 #foraTodos, #PEC65não, #BiodiversidadeSIM, #legalizaSTF).
O que dizer, sobre o que escrever, neste mundo em polvorosa em que nos encontramos? Sei lá, mas o contato hoje com dois artefatos de feminilidade talvez tenha atiçado minha veia de escrivinhador, u foi a corrente de poemas que me encontrou (thanks Lu Ribas pelo elo) . Sinto a vontade de escrever, mas não sei sobre o quê. E assim vou preenchendo estes linhas, esperando a inspiração que por ora não me vem, cabeça cheia de coisas que se recusam a se manifestar neste espaço tão só meu (aqui só eu escrevo, e poucos lêem).

Enfim, vamos a trivialidades: a vida segue, muuuuita coisa mudou. No meu perfil ainda estava no Sul, e eis-me aqui, de volta ao Cruzeiro, do Sul, que fica no Norte, que fica no Acre, no meu coração, no lugar que apelidei de Juruámar (Juruá+mar, juro amar). Separado, recasado, todo enrolado (pra variar). do PV pra Rede (tentando me firmar, e fazer pra mudar), trabalhando em RESEX (Liberdade, UHU!). Passei os últimos 2 anos rebuscando o passado, repreparando o futuro, algumas coisas - as mais profundas - ainda estão em processo.

40 anos... Meu, a vida começa aos 40, definitivamente, até aqui foi um ensaio, tentativa e erro, teste. Agora parece mais pra valer, levando a vida com mais cuidado (hahaha), prestando mais atenção ao que vou fazendo (ainda que ainda hajam muitos reflexos condicionados, muitos dos quais sequer reconheço).

Popor hoje é sossó, pepessoal...
amanhã tem mais. Ou não.